As Ilhas Canárias não são propriamente um destino de férias alternativo. E embora nunca tenhas estado, podes achar que sabes exatamente o que esperar: praias lotadas, resorts e armadilhas para o turista. No entanto, como com a maioria dos sítios, há partes menos vistas e menos exploradas – lugares que só os locais conhecem. Até agora!
Em colaboração com a escritora de viagem e especialista em destinos Andrea Montgomery, preparámos uma série em cinco partes desvendando os tesouros escondidos destas ilhas paradisíacas. Baseada nas Ilhas Canárias, a Andrea é perita em caminhada e comida, pelos caminhos mais e menos percorridos, e escreve sobre tudo no seu site Buzztrips.
A primeira parte desta série foca-se em Tenerife, a maior e mais habitada das sete ilhas. Com uns extraordinários cinco milhões de pessoas a visitar a ilha cada ano, vais precisar de um bocadinho de orientação para evitar as multidões.
Um paraíso de caminhada
Para além do apelo óbvio das praias solarengas o ano inteiro, Tenerife está a tornar-se rapidamente conhecida pelas suas oportunidades de caminhada, e com boa razão.
O Parque Nacional Teide fica situado no coração da ilha, a sua paisagem lunar surreal de lava atravessada por trilhos de caminhada no sopé da montanha mais alta de Espanha. A nordeste encontras muitos caminhos que atravessam a densa floresta tropical laurissilva das montanhas de Anaga.
Para ganhares um gostinho do que teria sido em tempos o ritmo de vida da ilha, segue as pegadas dos primeiros habitantes de Tenerife, os Guanches. Há cerca de 500 anos atrás, este povo esculpiu uma matriz de caminhos enquanto circulavam o seu gado entre os pastos de verão e de inverno. Estes trilhos são conhecidos como ‘caminos reales’ (caminhos reais) e proporcionam ótimas rotas de passeio e uma ligação palpável ao passado de Tenerife.
Percorre o ‘camino real’ de El Palmar até Teno Alto. Sobre o Vale de El Palmar, onde antigos trabalhos de pedreira deixaram a paisagem fatiada como uma tarte, o caminho chega ao cume e revela vistas esplêndidas do Teide antes de ir dar à aldeia de Teno Alto. Entra na pequena mercearia da aldeia para comprar queijo de cabra caseiro, do fresco ao curado.
Longe dos resorts
Para descobrir a verdadeira cultura de Tenerife, tens de sair o mais possível dos sítios do costume. Alguns dos segredos mais bem guardados de Tenerife estão nas pequenas vilas e aldeias à volta da ilha.
Embora a encantadora aldeia de montanha de Vilaflor fique situada a caminho d o Parque Nacional Teide, são poucos os turistas que a visitam. Passa um par de horas a tomar café na frondosa Plaza San Pedro, subindo até à minúscula capela da Ermita de San Roque para visitas panorâmicas sobre a costa, ou marcha ao longo do seu ‘camino real’ para veres as extraordinárias erosões rochosas da Paisaje Lunar.
A 40 minutos de carro de Santa Cruz, Arico Nuevo, uma antiga comunidade muralhada do século XVIII, ostenta pitorescas casas brancas com portadas e portas verdes. Bougainvillias vermelhas caem sobre as paredes brancas ladeando as ruas calcetadas. Gatos tomam banhos de sol sobre os telhados tortos. O ritmo é lento e parece um set de filmagem à espera que chegue o elenco.
Los Silos, situada na zona de Isla Baja no verdejante noroeste da ilha, é uma pequena cidade encantadora com ruas demasiado estreitas para autocarros turísticos, uma igreja branca que parece coberta de açúcar em pó, e um coreto arte nouveau que serve bolos caseiros deliciosos. Se estiveres por lá em dezembro, não percas o festival anual de contos.
Embora a maioria das pessoas vá em busca das vistas cénicas em Masca, a aldeia vizinha de Santiago del Teide é muitas vezes esquecida. Algumas das experiências perdidas incluem passeios de pónei e carroça a partir da Casona del Patio, a bonita igreja de San Fernando Rey, e as ‘arepas’ (pão de milho recheado venezuelano) do quiosque da zona de piqueniques.
O sabor de Tenerife
Longe dos resorts feitos à medida do turista, os restaurantes tradicionais de Tenerife têm algumas surpresas saborosas a partilhar.
As batatas de Tenerife, conhecidas como ‘papas bonitas’, foram trazidas para as Ilhas Canárias do Peru há mais de 400 anos e têm agora o seu próprio certificado de origem. Cozidas em água salgada até formarem uma crosta de sal, e servidas com molhos levemente picantes, têm o nome de ‘papas arrugadas con mojo’ (batatas rugosas com molho) e são louvadas tanto pelos locais como por grandes chefs culinários.
No que toca a marisco, eis o que precisas de saber. A Vieja, ou peixe-papagaio, nunca vai ganhar um concurso de beleza, mas em termos de sabor é quase imbatível. Outro favorito é o cherne carnudo que aparece frequentemente nas ementas. Os amantes de marisco devem experimentar o ‘pulpo’ (povo) tenro, servido em saladas ou inteiro.
O vinho Malmsey de Tenerife era em tempos tão valorizado que o Shakespeare recebia um barril como parte do seu salário anual. Nos dias de hoje, os vinhos da ilha estão uma vez mais a causar entusiasmos nos círculos enólogos. Podes comprar e provar alguns dos melhores nas Bodegas Monje em El Sauzal e no vizinho Museu do Vinho.
Onde comer para todos os orçamentos
Desde o barato e idiossincrático ao suprassumo, o panorama gastronómico de Tenerife é tão variado como as suas paisagens.
Os ‘guachinches’, restaurantes humildes sem picuinhices, têm prosperado nas serras do Norte desde o século XVII. Escondidos em localizações remotas, podes esperar uma ementa limitada e vinho dos vinhedos do próprio dono, tudo a preços ridiculamente baratos. Dirige-te para as serras de La Matanza, El Sauzal ou La Orotava e procura as tabuletas de cartão penduradas nas árvores com direções para a ‘guachinche’.
Longe dos hotéis resort do Sul, encontras uma proliferação dos chamados restaurantes ‘tinerfeño’. Estes são restaurantes tradicionais que servem comida descomplicada e ‘vino del pais’ (vinho local). Para o melhor preço, o ‘menu del día’ oferece três pratos e um copo de vinho por menos de €10.
Os amantes de marisco vão adorar as ‘cofradías’, restaurantes geridos pelo sindicato de pescadores, onde podes ter a certeza que o peixe chegou fresco das redes. Há uma boa ‘cofradia’ no porto de Los Cristianos e uma muito, muito chique – de acordo com os padrões das ‘cofradías’ – em Puerto de la Cruz onde um terraço panorâmico olha sobre o porto.
Se quiseres um serão gastronómico de topo, Tenerife é a única das Ilhas Canárias com uma estrela Michelin e uma delas está no restaurante familiar El Rincón de Juan Carlos em Los Gigantes. Terás de reservar com muita antecedência, mas vai valer a pena quando provares a comida incrível sem a pompa ou o preço Michelin.
Diverte-te como um local nas fiestas de Tenerife
As festas de Tenerife são barulhentas, coloridas e muito divertidas, e a melhor forma de as gozar é como o fazem os locais.
O Carnaval, que decorre todos os anos em fevereiro em Santa Cruz de Tenerife, é a maior celebração das Ilhas Canárias. Festas noturnas com música ao vivo, bancas de comida, quiosques de bebidas e caos geral são o verdadeiro coração do Carnaval, por isso não fiques só à margem a ver o desfile passar. Mascara-te, sai para as ruas à volta da Plaza España depois da meia noite e junta-te aos milhares de participantes mascarados a dançar até de madrugada.
Se por acaso vires uma procissão de locais em traje tradicional em carroças decoradas a atirar comida à multidão, é por que deste de caras com uma ‘romería’. As ‘Romerías’ são um tipo de festival de colheita com raízes pagãs e cristãs que geralmente envolve uma procissão de carroças cheias de comida e bebida, habitantes locais trajados e muitos animais a deambular livremente.
Decorrendo em cidades e aldeias por toda a ilha no Verão, os churrascos e vinhos são livremente partilhados com quem esteja de passagem. Compra um ‘vaso’ (um pequeno copo num estojo de couro para pendurar ao pescoço) a um dos vendedores e estende o braço em direção à cuba de vinho mais próxima enquanto apanhas uma costoleta ou um ovo cozido voador.
Durante o Corpus Christi anual, são colocados no chão complexos tapetes de pétalas de flores, transformando as ruas de La Orotava em obras de arte transientes. Do lado de fora da Câmara Municipal podes admirar uma tapeçaria complexa construída inteiramente de areia proveniente do Parque Nacional Teide. Ao fim do dia, a procissão do Corpus Christi caminha sobre tudo. Para veres os mestres ‘alfombristas’ a trabalhar, segue para La Orotava no dia anterior ao festival, sobe a uma varanda no primeiro andar da Câmara Municipal e observa a obra-prima em progresso em baixo.
Onde ficar
Os hotéis de charme rurais estão a tornar-se a norma, proporcionando um pouso rústico chique de onde partir a explorar. Aninhado na aldeia quase alpina de Vilaflor, o Hotel Villalba (preços a partir de €78 por quarto, por noite) tem imenso caráter. Se quiseres viver entre bananeiras, experimenta o Hotel Rural El Patio (preços a partir de €66 por quarto, por noite) em Garachico. Finalmente, se é em aldeias pequenas e encantadoras que te sentes mais em casa, o La Casona del Patio (preços a partir de €89 por quarto, por noite) em Santiago del Teide é o lugar para ti.