Tens espírito selvagem e um dia dedicado a relaxar na praia não te agrada. Estás sempre à procura da próxima aventura; montanhas para escalar, explorações no deserto, mergulho e novas culturas para descobrir são o teu pão de cada dia. Que viagem seria essa, sem que possas contar alguma história memorável aos teus amigos? Vê as histórias da nossa aventureira Isabel Saldanha.
1. O que é que viajar representa para ti?
Sei que é um cliché, mas viajar é viver a dobrar. Preciso de ter sempre uma viagem marcada, um marco no meu horizonte, um destino no dobrar da esquina. Tranquiliza-me saber que algures mais à frente vou oferecer-me à aventura e ao desconhecido.
2. Quando e qual foi o destino para onde viajaste sozinha pela primeira vez?
Acho que foi para o Carvalhal, se calhar estavas à espera de um destino mais exôtico, eu sei. Também é preciso descontruir isso. As viagens não passam todas pela casa da partida de um avião (aeroporto). Viajar sozinho é ir, sozinho, por um tempo, transportarmos-nos para fora da nossa zona de conforto. Até pode ser um hotel na esquina da tua rua. É ir para um lugar que não chamas casa e torná-lo um espaço teu.
3. Como viajar sozinha te enriquece e por quê o fazes?
Quando viajas sozinha, dependes apenas de ti. A tua confiança tem que estar nos píncaros ou na ilusão que está, não aconselho mesmo, a viajar sozinho quando estamos na fossa. Uma viagem com uma carga negativa pode facilmente tornar-se um pesadelo sem fim. E nem as águas cristalinas do Pacífico, as lanternas japonesas e os cânticos hindus apaziguam as dores escancaradas que trazes contigo. Viajo porque quero abanar-me, não vou levar a tristeza a ver paisagem, vou levar a Isabel a expandir os sentidos.
Não vou à procura de respostas, vou só. E há tanta sabedoria no ir, que se soubesse há mais tempo, já tinha ido…
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4. Na tua opinião, quais são os maiores desafios de viajar sozinha, especialmente durante uma viagem de aventura, e como lidas com eles?
O maior desafio é combater a ansiedade da ilusão, adequar a expetativa à realidade que encontras. Saber que posso sofrer impactos de solidão e solavancos no corpo e confiar que tenho a capacidade de os superar. Estares preparada para te divertires contigo própria quando tudo o que te apetecia era o coletivo imenso de uma gargalhada. Passar fome e frio e não te culpares a ti própria por cada falha. Pegar nessa raivinha verde e transformá-la em energia madura para te fazeres novamente à estrada e olhar sempre os estranhos nos olhos, até que tudo te pareça mais familiar.
5. Quais são os teus conselhos para organizar uma aventura a solo?
Estudar o destino. Há muita gente que pensa que se começar a planear muito, elimina o espaço para a aventura. Mas nada, do que tu possas pensar, por muito planeado que esteja, controla ou prevê o que tu vais viver. Porque a vida encarrega-se sempre de desmontar o puzzle. Atira-te para o desconhecido, compra o bilhete e aí vais tu, é mais cinematográfico que real. Aconselho sempre que se marque a primeira noite num alojamento como deve ser, que te ofereças a ti mesmo uma mega refeição e que acordes
descansada e com energia para veres tudo o que vais conhecer.
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6. Qual é o destino perfeito para uma viagem de aventura e por quê?
Isso depende muito do tipo de pessoa que és e do que procuras. Não aconselho sítios muito inóspitos para quem nunca se atitou a uma experiência a solo. São Tomé pode ser um bom país para arrancar. O povo é acolhedor, é seguro mas desafiante, a experiência humana é muito enriquecedora e tens várias alternativas ao nível do conforto. Podes
alugar um jipe e curtir as estradas esburacadas. Bali também é um sítio porreiro para uma experiência mais holística, embora seja muito comercial. Mas encontras sempre um spot paz de espírito para meditar, uma praia para curtir, um bar para beber e uma onda para surfar. Europa de Leste é um encanto e os Caminhos de Santiago são um encanto para quem quer praticar o desapego entre estranhos que te amparam.
7. Diz-nos algo que aconteceu numa das tuas viagens que impactou a maneira como viajas.
Conheci um monge na Birmânica que nos esperava todos as manhãs debaixo de uma árvora à porta de um hotel. Nunca pediu dinheiro, pediu só para acompanhar, tornou-se o meu tradutor e amigo.
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8. Como é percebido em Portugal o facto de uma mulher viajar sozinha?
Hoje em dia, não julgo que haja preconceito, há estranheza. As pessoas têm alguma curiosidade em saber o que motiva uma pessoa a ir sozinha. Para uns é sinal de auto confiança e solidez, para outros é uma inconsciência motivada pela necessidade de sarar qualquer coisa. Conheço cada vez mais mulheres que viajam sozinhas. Corresponde normalmente a um momento de grande estruturação interior, quase como um teste à força adquirida. Atenção que adoro viajar acompanhada, apaixonada então, é como viajar
agarrada à cauda de um cometa! Mas aconselho a todas as pessoas a fazerem uma incursão a solo. Se não tiverem coragem de furar a torre de Babel e ir para um destino com uma cultura e uma língua diferentes, comecem por marcar o Alfa e vão até a uma cidade que não costumam visitar, marquem um alojamento local e estagiem com vocês mesmo, é uma delícia as coisas que se descobrem.
9. Qual é a frase típica que ouves antes de partir numa aventura sozinha?
Lá vais tu para o buraco. Isso porque as últimas viagens que tenho feito não tenho tido grande conforto. Mas é no buraco que se vê a luz.
10. Para que tipo(s)/estilo(s) de mulheres a viagem de aventura é perfeita?
Para as irrequietas, as insatisfeitas, as que viraram o “boneco” mas precisam de se virar a elas próprias, para as que acham que nunca conseguem e para as que acham que conseguem tudo. Para cada estilo de mulher há um destino à espera para a acolher.
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Ninguém fica sozinho se não quiser, é preciso desmontar o prejuízo da solidão e capitalizar as qualidades que nos assaltam quando dependemos apenas de nós mesmas. E as mães… as mães precisam muito de voar para fora do ninho. Perceber que as asas não servem só para dar calor aos pintos, servem para atingir os píncaros.
11. Numa frase, o que dirias para inspirar outra mulher a viajar sozinha?
Dá medo e depois tudo o que te dá a seguir é PODER.
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