Paris é a melodia do acordeão no metro, o aroma a frango assado nos talhos de esquina, e a atitude única dos seus habitantes urbanos. Por vezes orgulhosos, outras vezes poéticos – os parisienses adoram a sua cidade. Decidimos ficar a conhecer alguns um bocadinho melhor, ouvir as suas histórias e, com sorte, levar para casa um bocadinho do seu amor pela cidade.
O que é que torna uma cidade especial, ou um arrondissement (distrito parisiense) encantador? A nós parece-nos serem as pessoas. Os nossos novos amigos locais falam-nos um pouco da sua Paris.
Todos estes restaurantes, bares e lojas são escolhidos a dedo do nosso guia da cidade de Paris gratuito, momondo places, disponível para iPhone.
Les Invalides, 7º arrondissement
David Toutain – 35 anos, chef e proprietário do restaurante David Toutain
Da aldeia de Flers na Basse-Normandie às margens do Seine em Paris, David Toutain estava determinado a partilhar o seu gosto por legumes, ervas aromáticas e flores com os parisienses sofisticados.
Armado de experiência profissional ganha trabalhando em restaurantes em Espanha e Nova Iorque e com viagens culinárias pelo mundo, em 2013, David inaugurou o restaurante a que deu o seu nome no 7º arrondissement de Paris. “Antes de viajar, vivia no 7º, e adoro este bairro, com as docas do Seine – é essencialmente o coração da cidade.”
Uma alegre obra-prima de madeira, betão, vidro e couro, e com luz natural sublime, cada parte do seu restaurante ganhou vida através da colaboração com artesãos talentosos.
“Quando estava à procura de um lugar onde abrir o meu restaurante, pareceu-me lógico procurar nesta zona – e quando me deparei com este lugar luminoso senti-me imediatamente em casa.” Pede para ficares sentado na grande mesa de madeira, marca das raízes normandas rurais de David, e detecta os produtos sazonais no teu prato como zimbro, azedas, trufa branca, pombo, ou alho verde, para dar alguns exemplos.
O bairro de Les Invalides é um autêntico postal parisiense – poderás encontrar o David a caminhar pela Rue Cler pedestre, babando-se com as bancadas coloridas de frutas e vegetais frescos. “Nós compramos os nossos ingredientes directamente aos produtores – é a interacção pessoal com eles que faz com que os produtos sejam o que são. Os seus produtos são a sua história de vida e a sua paixão.”
Onde: 29 rue Surcouf, 7º arr.
Tel: +33 1 45 50 11 10
Estação mais próxima: Invalides / La Tour Maubourg
Les Archives, 3º arrondissement
Alain Blackmann – Barbeiro mestre e curador no Alain Maître Barbier
No 3º arrondissement, ao lado da Boulevard Beaumarchais, ente os marcos históricos da Place des Vosges e da Place de la République, fica a pequena barbearia vermelha de Alain. Fundada em 1938, a loja é em si um testouro, mas no interior as paredes estão adornadas de relíquias de barbeiro de outra época.
“Eu estou sempre à procura de coisas novas para o meu museu [barbearia].” Ao longo dos últimos vinte anos, Alain tem sido o Mestre barbeiro-barra-curador dedicado e rigoroso do único museu-barra-barbearia em Paris.
O bairro é também onde se situa o Arquivo Nacional e muitas galerias – a arte, a história, e a herança francesa estão sempre presentes a cada esquina. “É o bairro que melhor corresponde à minha actividade tradicional”.
Com cada movimento elegante do pulso, Alain manuseia na perfeição a sua navalha e espuma de barbear, preservando um talento especializado inestimável. No Institut National Formation Coiffure, os barbeiros em formação podem aprender um pouco da técnica perita de Alain para domar bigodes.
Alain adora cumprimentar os seus clientes novos e regulares que vêm em busca de um dos melhores barbeiros da cidade. “Os meus clientes são todos fiéis, e os novos voltam sempre!” Mas não é só a reputação e a técnica que levas as pessoas a regressar à loja de Alain – “a maior qualidade que pode ter um barbeiro mestre é a discrição”.
Aquilo que é conversado com Alain, fica com ele, aprofundando ainda mais o ambiente de intriga dentro deste museu-barbearia. Dá um passo atrás no tempo, e sai de lá 10 anos mais novo – este é o paradoxo do barbeiro da Rue Claude.
Onde: 8 rue Saint-Claude, 3º arr.
Tel: +33 1 42 77 55 80
Estação mais próxima: Saint-Sébastien Froissart
Jules Joffrin, 18º arrondissement
Amine Stambouli – 31 anos, barman mixologista no Sunset
“O 18º foi sempre o meu bairro. E o Sunset é o meu vizinho.” Filho de algerianos vivendo em França, a diversidade cultural de Amine levou-o a viajar e a viver em diferentes cidades europeias, mas trocou sem dificuldade a sua estadia solarenga em Marselha pela noites no Sunset em Paris.
O Sunset, restaurante e bar, tem uma missão clara – oferecer aos seus clientes um lugar descontraído para relaxar com boa comida e bom ambiente. Tem sido também o laboratório de Amine ao longo do último ano.
Situado perto do Butte de Montmartre, por trás de grandes janelas de vidro encontra-lo a misturar, agitar, experimentar, combinar e inflamar todo o tipo de elixires deliciosos da sua paleta (termo seu) de bebidas alcóolicas de qualidade.
“O meu cocktail de assinatura é a Febre Dengue” – Mezcal, Tequila, lima, coulis de ananás, e bitters de pimenta. Acompanha o cocktail de um par de pratos para partilhar que mudam todas as semanas, baseados na selecção de ingredientes sazonais que o chef encontra. Tal como o bairro, a criatividade do Sunset está em constante mudança. “O 18º é um mundo à parte – com tantos tipos de artistas diferentes.” Depois de 12 anos a viver na capital, a sua morada actual sendo na Rue Lepic vizinha, para Amine, isto é casa.
A meio de esta e aquela conversa, com um “Salut, ça va et toi?” (Olá, tudo bem e tu?) informal, Amine cumprimenta diferentes clientes, novos e regulares. Seguro será dizer que com um sorriso do tamanho do seu penteado Afro, ele não passa despercebido. Se lhe perguntares pelo seu lugar preferido para comer bem e beber bom vinho despretensioso, ele diz-te para ires ao Bistrot des Halles no 1º, um estabelecimento típico parisiense.
Onde: 100 rue Ordener, 18º arr.
Tel: +33 1 71 28 99 33
Estação mais próxima: Jules Joffrin
Ler mais: um dia na zona norte de Paris: o que fazer num dos melhores bairros de Paris
Le Quartier Latin, 5º arrondissement
Kévi Donat – 32 anos, guia dos Black Paris Walks
Aquilo que era suposto ser um emprego temporário como guia turístico transformou-se numa vocação pessoa – uma forma de Kévi usar o seu conhecimento de ciências políticas e línguas estrangeiras para partilhar a sua curiosidade pela história rica de Paris. “As visitas estrangeiras ficam frequentemente surpreendidas com a diversidade de Paris.
A criação de uma vista guiada a pé que se foca na hostória Negra da cidade é uma forma de responder às suas perguntas.”
Desde 2013, Kévi encontra-se com grupos franceses e estrangeiros para ganhar uma nova perspectiva sobre a cidade das luzes, longe dos clichés. Começa o teu dia indo ter ao coração do Quartier Latin, bairro da Sorbonne e do Panteão.
“Eu adoro o Panteão, é um dos monumentos que revela melhor a complexidade da história francesa”. Experimenta um ou todos os três tours – The Left Bank (A Margem Esquerda) e os seus pioneiros, The Right Bank (A Margem Direita): de Pigalle a ‘Little Africa’, e The Paris Noir (A Paris Negra).
Através das experiências e influências de Aimé Césaire ou Richard Wright, descobre os destaques da diáspora de descendência africana, conversando sobre Jazz, o movimento literário Negritude, e as mercearias africanas.
Deixando a sua própria marca na fundação da história parisiense, Kévi também vive no Quartier Latin. “É aqui que tenho os meus pequenos hábitos, como beber café com natas no terraço do Café de la Nouvelle Mairie.”
Para saberes sobre o trabalho do Kévi sem ter necessariamente de estar em Paris, correm boatos de que ele está a desenvolver um podcast sobre identidade negra na cultura pop – Le Pitch Black.
Onde: Place du Pantheon, 5º arr.
Estação mais próxima: Luxembourg
Le Marais, 4º arrondissement
Karim Laroui – 44 anos, chef, consultor de restauração e DJ no Vins des Pyrénées
Desde a tenra idade de 11 anos que Karim tem vivido e crescido no Le Marais, vendo o bairro desenvolver-se de ateliers de couro para bares da moda.
O seu Marais vai da Rue du Pont Louis-Philippe, onde trabalhou anteriormente como chef no Chez Julien, até à Rue Beautreillis, onde cozinha actual e soberbamente no Vins des Pyrénées (VDP). Este bairro é o seu recreio, onde lhe é possível expressar a sua visão multifacetada como chef, consultor de restauração e designer de interiores para dar um visual novo aos estabelecimentos bastante clássicos de Paris.
Aqui no VDP, pratica-se uma nova tendência em ‘bistronomia’ – pratos gastronómicos servidos num ambiente descontraído. “Não é possível comer assim em qualquer lado.” O prato preferido de Karim é o blanquette de veau (ragu de vitela francês) temperada com baunilha e limão cristalizado, mas é também fã do Pluma de Bellota, um pedaço extremamente tenro de porco ibérico alimentado a bolota.
De noite, Karim troca o fogão pelo gira-discos, transformando o VDP numa pista de dança. Soul, funk, electro, e chansons française – “Eu só ponho a melhor música, desde Alain Souchon aos Pachanga Boys.”
O emprego é no Le Marais, mas Karim vive no 9º arrondissement, onde se situam a Opéra Garnier e o Olympia. “Eu adoro o 9º, mas quando vou para o Marais, desempenho muitos papéis – chef, arquitecto, DJ – são todos diferentes mas o objectivo é comum, criar algo.”
Onde: 25 rue Beautreillis, 4th arr.
Tel: +33 1 42 72 64 94
Estação mais próxima: Sully-Morland